quarta-feira, 28 de julho de 2010

Velho Rio São Francisco, triste Chico

O cronista Jairo Guedes Viana, que publica seu blog Histórias de Pescador no jornal O Tempo online conta que fez um passeio a um aquário temático em Belzonte, para comemorar com a família o aniversário de quatro aninhos de sua neta Beatriz, e se sentiu tão bem que aflorou nele a veia poética. Segundo nos conta, ele ficou inspirado, decidindo fazer uma singela homenagem ao São Francisco. Olha ela aqui.

Nasci na montanha
Das entranhas
Da Serra da Canastra,
No meio da mata.
Sou o Rio São Francisco,
O Velho Chico
A caminho do mar.

Lá, sou um filete transparente,
Sem afluente.
Meu leito é de pedras
Cheio de quedas.
Sou o Velho Chico
A caminho do mar.

Hoje sou manso, mas poluído
Nesse caminho comprido
Sujo na margem e no leito.
Quero voltar, mas não tem jeito.
Sou o Velho Chico indo para o mar.

Estou muito assustado
Meus peixes foram pescados.
Não sou mais rio pra navegar.
Só me usam para irrigar.
Sou o Velho Chico
A caminho do mar.

Se a União usasse o fisco
Contra a pescaria predatória
Combatendo os frigoríficos
O sertanejo teria outra história.
Eu sou o Velho Chico
Caminhando para o mar.

Ah! Se eu pudesse voltar
Lá pra minha nascente
Não correria para o mar
Cheio de poluente
Com os acidentes da Petrobrás
Não consigo mais ter paz.

Como não posso mais voltar
Lá para o meu pico
Fico aqui na foz a pensar.
Eu sou o Velho Chico
Que está chegando no mar.

Sou o Rio da Unidade Nacional.
Sou o Nilo Brasileiro,
Conhecido no mundo inteiro.
No Sertão não há outro igual.
Pena que o Velho Chico
Tenha que se misturar com o mar...


(Jairo Guedes Viana em O Tempo online, coluna Histórias de Pescador, em 20/03/2010)

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