O compositor e pesquisador mineiro Dércio Marques canta acompanhado da irmã, Doroty Marques, no Encontro das Culturas Tradicionais
O nome dele era Dércio Marques. Lugar de nascimento, segundo Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Dércio_Marques), Uberlândia-MG, segundo os amigos, Uberaba-MG. A idade era incerta, “algo em torno dos 60 anos”, segundo o violeiro e compositor mineiro Luiz Salgado. Dércio Marques morreu na terça-feira (26) em Salvador (BA), vítima de complicações de uma cirurgia de vesícula. Ele foi cremado ontem na capital baiana. Era casado e tinha quatro filhos.
Violeiro, cantor, pesquisador, intérprete e compositor de modas de viola, Dércio gravou, em Uberlândia, “Monjolear” (1996) em parceria com a Escola da Criança. Este disco e “Folias do Brasil” levaram o músico e produtor Ênio Bernardes e o grupo EmCantar a procurá-lo para nortear o primeiro trabalho do grupo. “Dércio Marques foi e é uma inspiração e uma referência para nós.
Como foi um dos primeiros a trabalhar com crianças, convidamos para dar um norte ao trabalho, no qual ele até participou de uma faixa”, disse Bernardes, que hoje está no setor de planejamento do EmCantar e faz parte do grupo Porcas Borboletas.
A faixa a que ele se refere, na qual Dércio Marques canta e uma daquelas que indicou para o disco “EmCantar” (1999), é “O Canto da Terra Sagrada”. Segundo Bernardes, Marques ainda convidou as crianças para participarem dos discos “Folias do Brasil” (2000) e “Cantos da Mata Atlântica” (1999), do artista. “Ele pegava a música no ar”, disse Ênio Bernardes, que soube da morte do músico pela reportagem.
O músico mineiro Luiz Dillah lamenta a morte do amigo. “Era um homem precioso, com um coração gigante, meio louco, sem casa, mas que tinha um trabalho primoroso. Para mim, ele não morreu, encantou”, afirmou Dillah. Ele não sabia ao certo onde Dércio Marques estava vivendo, mas sabia que tinha casas na Serra da Cantareira (SP), Salvador e no interior de Minas.
Para Dillah, o legado de Marques fica para mais de uma geração. “Era um artista espontâneo, coisa difícil de se ver hoje. Nunca pensava em números, em dinheiro, o que importava era a arte. Durante anos trabalhou com crianças e ‘Monjolear’ está entre os discos mais bonitos que já ouvi”, dissez Dillah, que mora desde 2000 em Ribeirão Preto (SP).
Verdadeira música caipira está longe dos holofotes
Dércio Marques fez muitas parcerias. Entre elas, uma com Paulinho Pedra Azul, que postou ontem no Facebook: “Hoje, com certeza, será um dos dias mais tristes da minha vida. Faleceu agora de manhã Dércio Marques, uma pessoa linda, que a vida mandou e a morte levou. Amigo, talentoso, fiel, culto, musical, irmão, pai, filósofo, artista da vida, dos sonhos e das realizações. Que ele vá em paz”, escreveu Pedra Azul.
Afastado da internet e das redes sociais, em Araguari, informado pela reportagem sobre a morte de Marques, o músico Adolfo Figueiredo, integrante do Trem das Geraes, tinha a voz embargada. “É uma pena, perdi um grande amigo, um inspirador”, disse Figueiredo.
No ano passado, Dércio e irmã, Doroty Marques, foram até Araguari para visitá-lo. Uma das músicas mais recentes de Figueiredo, “Yapoti Arandu”, foi composta para o filho mais novo de Dércio, Yanpoti, com letra de outro amigo em comum. “Estava ontem mesmo olhando algumas fotos nossas desta última visita”, disse Figueiredo.
Durante a entrevista, Figueiredo tinha em mãos o disco “Turma que Faz”, projeto de Dércio e Doroty Marques, deixado por eles durante a breve visita. “Ele era assim, ligava, avisava que estava chegando, dava cinco dias e nada. De repente davam notícias dele em Patos de Minas. Daí ele chegava e ficava uma duas semanas”, disse.
Para Figueiredo, Dércio era um homem solto na vida, livre. Se embrenhava em várias comunidades para descobrir os sons que saíam dali. Viajou pelo Brasil, América Latina e chegou até Portugal.
Outro compositor e violeiro araguarino Luiz Salgado afirma que Dércio Marques tem uma das produções mais ricas do país. “Foi um desbravador da cultura popular, dessas músicas que hoje em dia são pouco executadas, mas que tem um nicho de seguidores forte. Você não verá a música dele tocando no meio da tarde em um programa dominical porque não acreditam que venda, mas tem qualidade”, afirmou.
Salgado afirma que cantadores como Dércio Marques ainda são tratados de forma marginal na mídia e talvez agora, depois da morte do artista, podem até surgir alguns tributos, mas não no mercado comercial. “Tenho certeza de que, enquanto conversamos agora, tem muita gente prestando suas homenagens a Dércio Marques, mas as grandes mídias não vão noticiar. Quem não conhece o trabalho dele não deve se sentir culpado”, disse o músico.
Por Adreana Oliveira - Jornalista - Publicado no site do jornal Correio de Uberlândia http://www.correiodeuberlandia.com.br em 28/06/2012 7:26
(Foto: Anne Vilela- Divulgação)
O nome dele era Dércio Marques. Lugar de nascimento, segundo Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Dércio_Marques), Uberlândia-MG, segundo os amigos, Uberaba-MG. A idade era incerta, “algo em torno dos 60 anos”, segundo o violeiro e compositor mineiro Luiz Salgado. Dércio Marques morreu na terça-feira (26) em Salvador (BA), vítima de complicações de uma cirurgia de vesícula. Ele foi cremado ontem na capital baiana. Era casado e tinha quatro filhos.
Violeiro, cantor, pesquisador, intérprete e compositor de modas de viola, Dércio gravou, em Uberlândia, “Monjolear” (1996) em parceria com a Escola da Criança. Este disco e “Folias do Brasil” levaram o músico e produtor Ênio Bernardes e o grupo EmCantar a procurá-lo para nortear o primeiro trabalho do grupo. “Dércio Marques foi e é uma inspiração e uma referência para nós.
Como foi um dos primeiros a trabalhar com crianças, convidamos para dar um norte ao trabalho, no qual ele até participou de uma faixa”, disse Bernardes, que hoje está no setor de planejamento do EmCantar e faz parte do grupo Porcas Borboletas.
A faixa a que ele se refere, na qual Dércio Marques canta e uma daquelas que indicou para o disco “EmCantar” (1999), é “O Canto da Terra Sagrada”. Segundo Bernardes, Marques ainda convidou as crianças para participarem dos discos “Folias do Brasil” (2000) e “Cantos da Mata Atlântica” (1999), do artista. “Ele pegava a música no ar”, disse Ênio Bernardes, que soube da morte do músico pela reportagem.
O músico mineiro Luiz Dillah lamenta a morte do amigo. “Era um homem precioso, com um coração gigante, meio louco, sem casa, mas que tinha um trabalho primoroso. Para mim, ele não morreu, encantou”, afirmou Dillah. Ele não sabia ao certo onde Dércio Marques estava vivendo, mas sabia que tinha casas na Serra da Cantareira (SP), Salvador e no interior de Minas.
Para Dillah, o legado de Marques fica para mais de uma geração. “Era um artista espontâneo, coisa difícil de se ver hoje. Nunca pensava em números, em dinheiro, o que importava era a arte. Durante anos trabalhou com crianças e ‘Monjolear’ está entre os discos mais bonitos que já ouvi”, dissez Dillah, que mora desde 2000 em Ribeirão Preto (SP).
Verdadeira música caipira está longe dos holofotes
Dércio Marques fez muitas parcerias. Entre elas, uma com Paulinho Pedra Azul, que postou ontem no Facebook: “Hoje, com certeza, será um dos dias mais tristes da minha vida. Faleceu agora de manhã Dércio Marques, uma pessoa linda, que a vida mandou e a morte levou. Amigo, talentoso, fiel, culto, musical, irmão, pai, filósofo, artista da vida, dos sonhos e das realizações. Que ele vá em paz”, escreveu Pedra Azul.
Afastado da internet e das redes sociais, em Araguari, informado pela reportagem sobre a morte de Marques, o músico Adolfo Figueiredo, integrante do Trem das Geraes, tinha a voz embargada. “É uma pena, perdi um grande amigo, um inspirador”, disse Figueiredo.
No ano passado, Dércio e irmã, Doroty Marques, foram até Araguari para visitá-lo. Uma das músicas mais recentes de Figueiredo, “Yapoti Arandu”, foi composta para o filho mais novo de Dércio, Yanpoti, com letra de outro amigo em comum. “Estava ontem mesmo olhando algumas fotos nossas desta última visita”, disse Figueiredo.
Durante a entrevista, Figueiredo tinha em mãos o disco “Turma que Faz”, projeto de Dércio e Doroty Marques, deixado por eles durante a breve visita. “Ele era assim, ligava, avisava que estava chegando, dava cinco dias e nada. De repente davam notícias dele em Patos de Minas. Daí ele chegava e ficava uma duas semanas”, disse.
Para Figueiredo, Dércio era um homem solto na vida, livre. Se embrenhava em várias comunidades para descobrir os sons que saíam dali. Viajou pelo Brasil, América Latina e chegou até Portugal.
Outro compositor e violeiro araguarino Luiz Salgado afirma que Dércio Marques tem uma das produções mais ricas do país. “Foi um desbravador da cultura popular, dessas músicas que hoje em dia são pouco executadas, mas que tem um nicho de seguidores forte. Você não verá a música dele tocando no meio da tarde em um programa dominical porque não acreditam que venda, mas tem qualidade”, afirmou.
Salgado afirma que cantadores como Dércio Marques ainda são tratados de forma marginal na mídia e talvez agora, depois da morte do artista, podem até surgir alguns tributos, mas não no mercado comercial. “Tenho certeza de que, enquanto conversamos agora, tem muita gente prestando suas homenagens a Dércio Marques, mas as grandes mídias não vão noticiar. Quem não conhece o trabalho dele não deve se sentir culpado”, disse o músico.
Por Adreana Oliveira - Jornalista - Publicado no site do jornal Correio de Uberlândia http://www.correiodeuberlandia.com.br em 28/06/2012 7:26