Às 16h30 do dia 10 de maio de 1965, há 45 anos atrás, na estação ferroviária da Estrada de Ferro de Goiás, soava pelos céus de Araguari o apito do trem que conduzia os integrantes de uma organização militar até então desconhecida pelos araguarinos: o Batalhão Mauá - unidade de elite do Exército Brasileiro que foi transferida para o Triângulo Mineiro, com a incumbência de uma nobre, histórica e importante missão a ser cumprida no Planalto Central: a integração de Brasília, a Capital federal, recentemente inaugurada à época, ao sistema ferroviário nacional.
A estação estava completamente tomada pela população que disputava cada palmo da área livre da majestosa e imponente estação. Gente até “nas tampas”, nas escadarias, nos acessos à plataforma, nos canteiros da praça, nas janelas e nas portas das edificações que ornamentavam o conjunto ferroviário, nos muros, nos postes e até mesmo em árvores. Enormes filas tomavam conta do lugar e o povo espremido nas cordas que delimitavam a área nem se davam conta do “peteco” formado, o que se queria mesmo era acompanhar o desembarque da tropa do Batalhão Mauá. Foi assim o grande alvoroço na espera dos militares e civis tanto anunciados para a comunidade local.
Argumentado na importância social, econômica, política e administrativa da transferência definitiva da Unidade para Araguari, no caráter de interesse nacional de que se revestia a missão do Batalhão Mauá e nas diversas solenidades comemorativas e de recepção programadas pelo Executivo, foi considerada a data, 10 de maio de 1965, como feriado municipal, a partir das 15h, como bem assegurou o Decreto-Lei nº 12/65, daquela data.
Recordamos aqui, as palavras do saudoso e inesquecível Cabo Otto Dilson Dettmer: “o comboio esperado por todos em Araguari naquele dia, saiu da Estação de Mafra, em 6 de maio pela manhã, onde a comunidade riomafrense superlotou aquele local, para as despedidas dos familiares e amigos. Foram quatro dias de viagem, para chegar primeiramente à Estação de Engenheiro Stevenson, por volta das 10 horas da manhã e como a chegada em Araguari estava marcada para as 16 horas, permanecemos acantonados naquele local, aguardando o momento certo de seguir viagem para a entrada triunfal na cidade de Araguari. A chegada em Araguari foi emocionante, calorosa, generosa, enfim, foram momentos indescritíveis.”
Acertara o amigo Otto, “entrada triunfal” sim, pois se encontravam na estação da “Goiás” todas as autoridades políticas, militares e eclesiásticas, professores, alunos, bandas de música, tropa do Tiro de Guerra – TG 57 e representantes dos diversos segmentos da cidade. Enfim, todos juntos, fervorosos e felizes, para saudar a entrada triunfal do Batalhão Mauá em Araguari.
Após calorosas saudações de boas-vindas, dos discursos entusiasmados dos oradores, do desfile vibrante e emocionante que se estendeu pelas principais ruas do município encerrando-se na praça Manoel Bonito, a tropa seguiu destino para o salão paroquial da Igreja da Matriz do Senhor Bom Jesus da Cana Verde, onde se encontrava instalada a Companhia de Comando e Serviço.
O ícone da imprensa araguarina, Odilon Neves, o mais laureado dos radialistas do município – o qual transmitiu o evento naquela oportunidade –, fez questão de dar o seu testemunho: “eu trabalhava na Rádio Cacique, nossa equipe foi para a estação e montamos aquelas cornetas antigas nos postes, na plataforma, em todos os lugares, foi realmente uma epopéia, uma festa que Araguari nunca mais vai ver igual. O Batalhão mudou o panorama de Araguari, se via somente alegria em todos os presentes.”
Disputavam pela sede do Batalhão Mauá, várias cidades, dentre elas: Uberlândia, Pires do Rio e Araguari. Depois de uma empreitada sem fim, com viagens cansativas, visitas constantes aos dois Rios, Rio de Janeiro e Rio Negro no Paraná, intermináveis reuniões e incessantes contatos, a vitória foi da cidade, do seu povo que ofereceu melhores condições, tanto no campo estratégico como na receptividade. Além, é claro, como dever de justiça, há de se destacar a atuação decisiva e imprescindível de um prefeito arrojado da época que contava com apenas 36 anos de idade, jovem e determinado que apostara e acreditara em seus sonhos, os quais traduziam nos sonhos de cada um de nós araguarinos: Miguel Domingos de Oliveira.
Se quisermos saber mais sobre o valor histórico dessa data, basta pesquisar as reminiscências históricas das Organizações do Exército em nossa região, de ontem e de hoje, e veremos que o nosso município sedia nada mais, nada menos que três delas: um Núcleo Preparatório de Oficiais da Reserva, um Centro de Instrução de Engenharia e Construção e um Batalhão de Engenharia de Construção, unidades de grande importância para a formação de jovens oficiais, para o desenvolvimento e progresso não somente da nossa região, mas de diversos estados do território nacional.
Araguari, em 1965, ressentida e sofrida pela transferência da sede da Estrada de Ferro de Goiás para Goiânia, sentiu-se revigorada, esperançosa e confiante com a chegada do Batalhão Mauá. Hoje, transformou-se num grande pólo de instrução de engenharia militar em virtude da estrutura organizacional dessas unidades de engenharia de construção, da capacidade técnico-profissional de seus efetivos, da qualidade de seus trabalhos e de sua mão-de-obra especializada em obras rodoferroviárias espalhada por todo o Brasil, elevando com orgulho e sentimento de patriotismo o nome de Araguari e do Exército Brasileiro para os mais distantes rincões da nação brasileira.
(Edmar César, do jornal Gazeta do Triângulo, postado em 12-05-2010)
2 comentários:
Cheguei antes, em fevereiro de 1965. Fui com um caminhão FNM C-2, com um motorista e um telegrafista o "Macacheira". Depois retornaria a Rio Negro para providenciar as mudanças, por caminhões,dos oficiais e sasrgentos de Rio Negro - PR para Araguari - MG.
Fiz o curso de formação de sargento, participei de manobras em Ipameri - GO e na região do Distrito Federal, em 1966, tendo ficado a disposição do Batalhão da Guarda Presidencial.
Terminado o curso fui destacado para chefiar turmas de construção da ferrovia Pires do Rio - GO a Brasílias no Distrito Federal. No início de 1967 fui designado para chefiar a construção da primeira estação ferroviária de Brasília, concluída em 31.03.1968.
Tive convite para ir para a Gráfica do Senado, no entanto optei, posteriormente em ir para Porto Velho, em Rondônia, para participar da construção de rodovias na Amazônia sendo pioneiro nisto pela engenharia do Exército.
Fui para a reserva em 31.08.1988. Atuei nas áreas federal, estadual, municipal, na iniciativa privada e em empreendimento próprio. Uma vida inteira dedicada ao pensamento e a ação.
Em Araguari conheci e fiz grandes e sinceros amigos que me deixaram muitas saudades.
Adm. Carlos Alberto Camargo Lima
Cheguei antes, em fevereiro de 1965. Fui com um caminhão FNM C-2, com um motorista e um telegrafista o "Macacheira". Depois retornaria a Rio Negro para providenciar as mudanças, por caminhões,dos oficiais e sargentos de Rio Negro - PR para Araguari - MG.
Fiz o curso de formação de sargento, participei de manobras em Ipameri - GO e na região do Distrito Federal, em 1966, tendo ficado a disposição do Batalhão da Guarda Presidencial.
Terminado o curso fui destacado para chefiar turmas de construção da ferrovia Pires do Rio - GO a Brasília no Distrito Federal. Inicialmente fiquei num local denominado Surubi - GO e chefiei o avançamento da ferrovia em direção a Brasília. Depois fiquei num local onde não tinha nada. Hoje é a cidade de Valparaíso de Goiás. No início de 1967 fui designado para chefiar a construção da primeira estação ferroviária de Brasília, concluída em 31.03.1968.
Tive convite para ir para a Gráfica do Senado, no entanto optei, posteriormente em ir para Porto Velho, em Rondônia, para participar da construção de rodovias na Amazônia sendo pioneiro nisto pela engenharia do Exército.
Fui para a reserva em 31.08.1988. Atuei nas áreas federal, estadual, municipal, na iniciativa privada e em empreendimento próprio. Uma vida inteira dedicada ao pensamento e a ação.
Em Araguari conheci e fiz grandes e sinceros amigos que me deixaram muitas saudades.
Adm. Carlos Alberto Camargo Lima
Postar um comentário