sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ser mineiro

Se sou mineiro? Bem, é conforme, dona. (Sei lá por que ela está perguntando?) Sou de Belzonte, uai.

Tudo é conforme. Basta nascer em Minas para ser mineiro? Que diabo é ser mineiro, afinal? Inglês misturado com oriental? É fumar cigarro de palha, como o poeta Emílio, de Dores do Indaiá? Autran fuma cachimbo. Tem até quem fume cigarro americano. (No bairro do Calafate havia uma fábrica de "Camel".) Em suma: ser mineiro é esperar pela cor da fumaça. É dormir no chão para não cair da cama. É plantar verde pra colher maduro. É não meter a mão em cumbuca. Não dar passo maior que as pernas. Não amarrar cachorro com lingüiça. Porque mineiro não prega prego sem estopa. Mineiro não dá ponto sem nó. Mineiro não perde trem. Mas compra bonde. Compra. E vende pra paulista.
Evém mineiro. Ele não olha: espia. Não presta atenção: vigia só. Não conversa: confabula. Não combina: conspira. Não se vinga: espera. Faz parte do decálogo, que alguém já elaborou. E não enlouquece: piora. Ou declara, conforme manda a delicadeza. No mais, é confiar desconfiando. Dois é bom, três é comício. Devagar que eu tenho pressa. Fernando Sabino

"Ser mineiro é não dizer o que faz , nem o que vai fazer , é fingir que não sabe aquilo que sabe , é falar pouco e escutar muito , é passar por bobo e ser inteligente...". Ser Mineiro é dizer UAI, é ser diferente e ter marca registrada, é ter história. Ser Mineiro é ter simplicidade e pureza, humildade e modéstia, coragem e bravura, fidalguia e elegância. Ser Mineiro é ver o nascer do sol e o brilhar da lua, é ouvir o cantar dos pássaros e o mugir do gado, é sentir o despertar do tempo e o amanhecer da vida.
Ser Mineiro é ser religioso, conservador, é cultivar as letras e as artes, é ser poeta e literato, é gostar de política e amar a liberdade, é viver nas montanhas, é ter vida interior. É ser gente. Guimarães Rosa

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Hino a Araguari

Araguari dos meus sonhos
Orgulho de Minas Gerais
Relembro os dias risonhos
Da mocidade que não volta mais.

Vivo carpindo a saudade
Saudade que me invade o ser.
Araguari que me viu nascer
Longe de ti não sei viver
Araguari do meu bem querer
Sem ti não posso viver.

Ar perfumado
Das flores do mato
A noite as estrelas beijando o regato
Tudo a sorrir em mágico esplendor
Araguari é um ninho de amor!


Letra: Zequinha Torres
Melodia: Geraldo Marra

Serafim Peres, personalidade que transcende Araguari

Depois de plantar café no Norte do Paraná e em Tupã, Alta Paulista, resolveu se mudar "de mala e cuia" para a região do Cerrado Mineiro, instalando-se no Distrito do Amanhece, em Araguari.
O interessante nome "Amanhece" foi dado porque, antigamente, quando havia uma linha férrea regular, os trens provenientes ou de São Paulo ou de Goiás faziam uma parada nesse local para abastecer as "Marias Fumaças", como eram chamadas as locomotivas a vapor, de água. Como, normalmente, devido ao horário de chegada ser o noturno, os condutores pernoitavam lá e, dessa forma, a composição literalmente "amanhecia" no Amanhece...

Sr. Serafim, como os típicos novos bandeirantes do Cerrado Mineiro, se apaixonou pela pesquisa, chegando a transformar a sua famosa Fazenda Paraíso num verdadeiro "campo experimental", onde são mantidos diversos experimentos sobre irrigação e nutrição do cafeeiro. Em grande parte, essa paixão pela pesquisa foi estimulada pelo seu filho Evanildo Peres, agrônomo com mestrado em Nutrição do Cafeeiro e que foi docente da UNESP em Jaboticabal. Particularmente, considero Evanildo como um dos mais brilhantes agrônomos, sendo meu "guru" nas "coisas da planta do café" .

Outra particularidade é que o Sr. Serafim é referência em termos de alta qualidade de cafés, tendo produzido ao longo dos anos excelentes cafés, além de ser um dos formadores de opinião da região.

Do Portal de Araguari, por Ensei Neto, autor do site http://www.coffeetraveler.net/

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Gracie

Você é linda
cor de primavera

Sonharei
com o seu
sorriso
e beijarei
o seu
sol

Amanhã
ao
meio
dia.


Ricardo Wagner Ribeiro

Paisagem Humana

Na cabeça tranqüila de um bicho
repousa sonhando o cérebro
dançam os cabelos emarulhados
na poesia louca dos poetas vivos

O sonho esquecido de um homem
vagueia no corpo perdido sem forma
giram compassos descompassados
no passado do coração atrapalhado

Agonizam bocas espumantes
espalmam as palmas das mãos flutuantes
os olhos são rios jorrando sorrisos
fontes florindo na primavera

Claros céus do sem medo
voam asas ruborboletas bailando
sóis aviões colibris se encontram
como nuvens em forma de ecos soltos no ar

Assim sou assim vou no galope
ando galopeando no lombo do tempo
caio tropeçando no caminho barrento
sem pasto nem porto sozinho bêbado solidão.

Ricardo Wagner Ribeiro

A Língua Lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.


Carlos Drumond de Andrade

Olhos Angorá

Cinzas...
Cor
Da negra melodia.

O interlúdio da tarde
Faz vibrar o sol que arde
A noite que me aguarde.

Estarrecido fiquei ao ver
Que Vinícius tinha razão
Que a vida tem sempre razão
E não.

E não o freguês
E não eu nem vocês...

É tão triste ver passar
A tardinha, o quase anoitecer
Seu cair de gaivota por esse imenso mar
Por essa terra Brasil
Seu voar com ar de Espanha
Navegar pelas praias de Portugal.

Os olhos de quem tanto se ama
São da cor da chama
De Angorá.

Cruzeiro do sol
Candeeiro da minha alegria
Vai, meu menino, iluminar...
O brilho que aqui clareia
Não reluz como lá.



Ricardo Wagner Ribeiro, Brasília 2009