Embora publicado na segunda metade do ano passado, este artigo me pareceu mais atual do que nunca. O artigo é de autoria do médico João Gilberto Rodrigues da Cunha - membro da família Rodrigues da Cunha (entre eles, o coronel Lyndolpho Rodrigues da Cunha, falecido em 1927 em Araguari; Clarimundo Rodrigues da Cunha; o capitão Manoel Rodrigues da Cunha Mattos, mais conhecido por "Capitão Manoel Pólvora"; e Belisário Rodrigues da Cunha - todos oriundos dos sertões da "Farinha Podre", hoje Uberaba). Diz o artigo:
Sou leitor diário do que chamam Macaco Simão, gerente da coluna deste país de piada pronta na Folha de S.Paulo. Tem muita gente comigo nesta leitura. Afinal e cada vez mais, o nosso Brasil é líder mundial da piada pronta. Melhor ainda, em nossa habilidade diária transformamos dramas nacionais em piadas internacionais. Ou seja, se bom humor fosse moeda, o Brasil encaçapava a sete nas bolsas de negócios. Os que me conhecem e leem sabem como eu gosto de levar na gozação a grande piada que Pedro Álvares Cabral descobriu e nossos chefes vão aprimorando.
Assim, como plágio, leio a Folha em suas páginas e colunas de seriedade – e corro logo pra ver na Ilustrada a análise do José Simão. Agora e nestes dias, ele ... ... – e deixa algum espaço e liberdade para os nossos -ops- políticos. Material abundante, aliás, desde que o Senado entrou em cena. Piada ali é o que não falta, e de alto calibre, mesmo porque o Lula está pondo o mundo em ordem (!) e deixa na desordem seus filhos naturais e desnaturais.
O que assistimos é a um troca-troca de líderes, afirmações, compromissos, ninguém mais se entendendo nem sabendo aonde chegar, quem é quem e quem será. Olhe, meus amigos, este troca-troca de alto nível me lembra – no estilo Zé Simão – um troca-troca ocorrido na fazenda do Zé Humberto, meu irmão, testemunha da história, embora infelizmente morta. Mas eu conto o caso. Moravam na sua fazenda o Zé Grandão e o Tibó, empregados de tipos e costumes diferentes, porém preciosos e grandes amigos. Aos sábados, após o fecho da semana, iam ali no arraial do Veríssimo encontrar os amigos do jogo de truco e a boa pinga do cabaçal – era sua alegria.
Pois bem, naquele sábado, o Zé recebeu um saldo de grana e o Tibó nada tinha pra receber, ia de companhia zerada. Na estrada e caminho, o Zé Grande viu um bom monte de bosta fresca de vaca, deitou falação: “Tibó, eu aqui vou com meus cinquenta no bolso tomar boa pinga, gozar a vida – e você fica na draga, só olho e inveja. E tem mais, medroso, porque se tiver coragem e comer este monte de bosta, eu lhe dou os cinquenta reais!”. Tibó, humilhado, “p” da vida, tomou fôlego, baixou mão e boca e traçou a bosta da vaca. Zé grande fez “eco” – mas pagou.
A situação se inverteu na caminhada. Agora, o Tibó, ainda cuspindo e limpando a boca, ficou soberano. “Pois é” – dizia –, “seu Zé Besta, agora eu tenho meu cinquenta, vou jogar truco, mexer com as mulheres – e você vai ficar olhando, seu palhaço! E tem mais, se você tiver coragem e comer o resto da bosta, eu te pago os cinquenta!” Danou-se. O Zé, humilhado, baixou a boca na bosta, recebeu de volta os cinquenta, e continuaram a marcha heroica para o Veríssimo.
Daí a cem metros, Tibó parou, o Zé também, e o Tibó concluiu: “Compadre, você reparou que nós comemos merda de graça?”. Pois é, meus amigos, tem gente assim em acertos pra todo lado. Em Brasília, então...
João Gilberto Rodrigues da Cunha (médico e pecuarista)
Publicado no Jornal da Manhã (Uberaba-MG) - em 15.07.2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário